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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Violência na mídia e os efeitos sobre as crianças

A violência na mídia tem sido uma preocupação para pais, educadores e pesquisadores. De um lado, alguns acreditam que expor a criança à violência, como ocorre nos desenhos animados, em filmes e vídeo games pode influenciar no comportamento da criança, fazendo com que seja mais agressiva ou passe a encarar a violência como algo banal. Para outros profissionais, a mídia não é a responsável pelo aumento da violência entre crianças, mas sim pela violência praticada contra a infância, contra seus direitos como criança e ser humano. A relação entre a televisão e a criança está sendo estudada, mundialmente, desde 1950.
A violência contra as crianças inclui violência física, psicológica, discriminação, negligência e maus-tratos. Ela vai desde abusos sexuais em casa a castigos corporais e humilhantes na escola; do uso de restrições físicas em casa à brutalidade cometida pelas forças da ordem, de abusos e negligência em instituições até às lutas de gangs nas ruas onde as crianças brincam ou trabalham; do infanticídio aos chamados «crimes» de honra.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2002, cerca de 53.000 crianças entre os 0-17 anos de idade foram vítimas de homicídio; Segundo as últimas estimativas da Organização Mundial do Trabalho (OIT), 5.7 milhões de crianças realizavam trabalhos forçados ou em regime de servidão, 1.8 milhões estavam envolvidas na prostituição e pornografia, e 1.2 milhões foram vítimas de tráfico no ano 2000.
Em 16 países em desenvolvimento analisados no âmbito de um Inquérito Mundial sobre Saúde realizado nas escolas, a percentagem de crianças em idade escolar que afirmaram ter sido vítimas de bullying (intimidação) verbal ou física na escola nos 30 dias anteriores à entrevista oscilava entre os 20% em alguns países e 65% noutros;
Segundo o Estudo, as crianças que se encontram em centros de detenção são frequentemente vítimas a atos de violência por parte do pessoal da instituição, por vezes como forma de controlo ou castigo, na maior parte dos casos por infracções menores. Em 77 países, os castigos corporais e outras formas de punição violentas são aceites como medidas disciplinares legais em instituições penais. As marcas físicas, emocionais e psicológicas da violência podem ter sérias implicações no desenvolvimento da criança, na sua saúde e capacidade de aprendizagem. Alguns estudos mostraram que o fato de ter sofrido atos de violência na infância está relacionado com comportamentos de risco no futuro, tais como o consumo de tabaco, o abuso de álcool e drogas, inatividade física e obesidade. Por outro lado, estes comportamentos contribuem para algumas das principais causas de doença e de morte, nomeadamente para certos cancros, depressão, suicídio e problemas cardiovasculares. “A violência tem consequências duradoiras não apenas paras as crianças e seus familiares, mas também para as comunidades e países” afirmou a Diretora Executiva da UNICEF Ann M. Veneman. “Consideramos este Estudo sobre as consequências da violência nas crianças da maior importância e oportunidade.”
Uma mensagem preocupante que a Televisão nos vende progressivamente é a de que a violência é aceitável. A Televisão diz que a violência é trivial, lugar comum, de todos os dias, mundana. Faz parte da vida, é normal. É parte da nossa cultura moderna. A Televisão também ensina algo ainda mais corruptível – que a inteligência está fora de moda e que a força bruta é que está a dar. A moralidade está ultrapassada. Os policiais são estúpidos e os criminosos é que são os espertos. Há uma selva lá fora, envolvendo homens, mulheres e crianças e, no entanto, está tudo bem.
O aumento estrondoso da criminalidade violenta, nos últimos anos, trouxe para a agenda social a questão da segurança pública. Outrora, assunto restrito a poucos atores, agora a temática da segurança pública alcança o centro das discussões, numa sociedade aflita em meio a um estrondoso incremento da violência e criminalidade. O resultado do referendo sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munição amplificou um evidente clamor popular que exige medidas consistentes, duradouras e claras no combate e na prevenção ao crime.
A mídia, percebendo a importância do momento histórico (e principalmente o poder de vocalização dessa demanda pela classe média sua maior consumidora) tem aprofundado as discussões sobre a questão, pautando de forma cada vez mais constante a cobertura acerca da segurança pública. A questão da criminalidade entre menores e o descontentamento da sociedade quanto punição destes, mostra uma realidade no qual vê-se que a legislação de menores em nada contribui para que se altere na essência a situação de indignidade vivida pelas crianças e adolescentes brasileiros, vez que sequer os reconheceu como sujeitos dos mais elementares direitos.
A era do entretenimento, escrupulosamente medida pelas oscilações do Ibope, tem na promoção da violência um de seus carros-chefes. A transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A guerra pela conquista do mercado passa por cima de quaisquer balizas éticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o marketing do entretenimento violento está apontando as baterias na direção do público infantil.
A onipresença de uma televisão pouco responsável e a transformação da Internet num descontrolado espaço para a manifestação de atividades criminosas (a pedofilia, o racismo e a oferta de drogas, frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado de Direito democrático) está na origem de inúmeros comportamentos patológicos. É preciso atacar as causas profundas da criminalidade. Trata-se de um desafio para algumas gerações. Mas, ao mesmo tempo, o governo tem o dever de garantir a segurança imediata dos cidadãos e não pode invocar a crise estrutural da sociedade e da família como justificativa para apatias e omissões. O combate ao crime exige realismo, investimento e muito trabalho.
Os “bandidos mirins” são criminosos perigosos. Frequentemente mais violentos que os adultos. Matam. Estupram. Roubam. Precisam ser retirados do convívio social. Mas têm, ao mesmo tempo, direito a um tratamento digno e a um honesto esforço de ressocialização.

Trecho do artigo "Mídia e educação: criança e consumo"
por Kamila Melo em Setembro de 2011.

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